Programa Viva Bem Viva Saudavel

Uma Abordagem Ancestral para Tempos Modernos: Sabor, Temperatura e Emoções na Dietoterapia Chinesa

Mão estendida de uma pessoa desfocada ao fundo, sugerindo um gesto de convite ou acolhimento.

A vida contemporânea é marcada pela velocidade, pela sobrecarga de tarefas e por uma constante exposição a estímulos diversos — desde pressões no ambiente de trabalho até o “bombardeamento” digital do quotidiano. Neste cenário, cuidar da saúde de forma integral apresenta-se como um verdadeiro desafio. No entanto, há uma via ancestral que pode guiar-nos para um equilíbrio global, contemplando corpo, mente e emoções: a Dietoterapia Chinesa. No Programa Viva Bem…Viva Saudável, este conhecimento milenar é ensinado de maneira adaptada à realidade atual, unindo métodos ocidentais modernos (como a alimentação anti-inflamatória, a gestão do stress e a melhoria do sono) com princípios orientais ancestrais.


O que é a Dietoterapia Chinesa

A Dietoterapia Chinesa faz parte da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que entende cada alimento não apenas pelo seu teor de nutrientes, mas também pela sua natureza energética. Em vez de olhar apenas para proteínas, hidratos de carbono e calorias, considera-se se o alimento é “quente, morno, neutro, fresco ou frio” (em termos energéticos), bem como o sabor (amargo, picante, doce, salgado ou ácido), relacionando-os com os cinco elementos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água.

Contudo, não existe uma fórmula universal. Cada indivíduo apresenta uma constituição energética distinta, e o que pode ser benéfico para um (por exemplo, adicionar canela ou gengibre para aquecer) pode agravar a condição de outro que já padeça de excesso de calor interno. Para ilustrar, é comum algumas mulheres na menopausa sentirem afrontamentos (“fogachos”) e suores noturnos, sintomas que apontam para calor interno. Se, ao tentarem “reforçar a energia” com especiarias muito quentes, elas podem piorar esses suores e aumentar a sensação de irritabilidade e calor. Assim, a avaliação individualizada por um especialista em MTC é fundamental para que se definam alimentos e temperos adequados a cada caso.


Alinhamento com as Estratégias Contemporâneas de Saúde

No Programa Viva Bem…Viva Saudável, a Dietoterapia Chinesa concilia-se de forma harmoniosa com abordagens modernas como:

  1. Alimentação Anti-inflamatória
    Investigadores têm associado o consumo frequente de alimentos ultra-processados, açúcares refinados e gorduras industrializadas ao surgimento de inflamações crónicas e de doenças metabólicas. A Dietoterapia Chinesa, ao privilegiar ingredientes minimamente processados, cereais integrais e vegetais cozidos de forma adequada, coaduna-se perfeitamente com o conceito de reduzir a inflamação, embora traga alertas específicos sobre o excesso de alimentos crus ou frios para pessoas que apresentam fragilidade na digestão (Baço/Estômago).
  2. Gestão do Stress e das Emoções
    Para a MTC, um desequilíbrio emocional pode afetar diretamente o funcionamento dos órgãos. Em paralelo, métodos ocidentais de gestão do stress (meditação, relaxamento, pausas regulares ao longo do dia) potenciam o efeito de uma alimentação equilibrada. Dessa forma, a Dietoterapia Chinesa não se limita à nutrição física, mas também apoia o equilíbrio mental e emocional.
  3. Melhoria da Qualidade do Sono
    Insónias ou despertares frequentes podem estar ligados a desequilíbrios internos. Na prática da Dietoterapia Chinesa, fazer um jantar leve e terminado mais cedo — com sopas ou pratos mornos e facilmente digeríveis — facilita a noite reparadora, algo também corroborado pela ciência moderna do sono. Evitar grandes estímulos luminosos e eletrónicos, bem como refeições excessivas próximo à hora de deitar, complementa esses cuidados.

Como Aplicar a Dietoterapia Chinesa no Dia a Dia

1. Respeitar a Natureza Energética de Cada Pessoa

Cada organismo é único. Alguém com tendência a “pés frios” pode necessitar de refeições ligeiramente aquecedoras (sopas, cozinhados mais demorados) e temperos moderadamente quentes (gengibre ou canela), enquanto outra pessoa que enfrenta “calor interno” — como em alguns casos de menopausa — deve ter cautela ao ingerir esses mesmos temperos.

Exemplo: Uma mulher que apresente afrontamentos constantes na menopausa pode precisar de alimentos mais neutros ou até ligeiramente refrescantes (em termos energéticos) e não se beneficiar de canela ou gengibre em demasia, sob risco de aumentar a sensação de calor e irritabilidade.

2. Compreender a Diferença entre Temperatura Física e Natureza Energética

Na MTC, quando se diz que um alimento é “fresco” ou “frio”, não se fala unicamente da temperatura de serviço (gelado, morno ou quente), mas sim do efeito energético que ele exerce sobre o organismo. Uma refeição servida quente pode ter natureza “fresca” (como sopas com certos vegetais que acalmam e refrescam o corpo por dentro), enquanto um chá morno com gengibre pode ser altamente aquecedor no sentido energético. Portanto, não se trata apenas do grau de calor ou frio ao toque, mas sim de como o alimento interage com a “energia interna” de quem o consome.

3. Planeamento das Refeições

  • Pequeno-almoço (café da manhã):
    Numa ótica ocidental, é comum começar o dia com papas de flocos de aveia, torradas ou ovos mexidos. Desde a perspetiva da MTC, uma refeição morninha e de fácil digestão fortalece Baço/Estômago. Se sentirmos que tal refeição é suficiente, muitas vezes dispensamos o lanche do meio da manhã, pois a saciedade se mantém.
  • Almoço:
    Consistindo normalmente na maior refeição do dia, deve equilibrar proteínas (peixe, frango ou leguminosas), vegetais e cereais integrais. Aqui, prioriza-se a cozedura ligeira, evitando o excesso de alimentos crus, sobretudo em climas mais frios ou para indivíduos com digestão fraca.
  • Jantar:
    Geralmente não se recomenda exceder o horário das 19h-20h para essa refeição. Sopas, cremes de legumes ou pratos cozinhados são exemplos comuns na Dietoterapia Chinesa, pois facilitam a digestão e promovem um sono mais tranquilo. Se a pessoa sente calor, escolhe-se temperos suaves; se sente frio interno, aumenta-se ligeiramente os ingredientes aquecedores (sempre com cautela e sob orientação).

4. Escolher Exercícios e Atividades Físicas Adequados

Na MTC, valoriza-se o movimento corporal para promover circulação de energia (Qi). Práticas como caminhadas, Tai Chi ou Yoga são frequentemente apontadas pela sua capacidade de alinhar corpo e mente. Contudo, isto não exclui a possibilidade de realizar musculação, treinos de força ou até HIIT (exercícios intervalados de alta intensidade), desde que adequados à condição física e energética de cada indivíduo. Estudos recentes mostram que essas modalidades podem ser benéficas para o ganho de massa muscular e para o equilíbrio hormonal em vários perfis, incluindo pessoas com tendência a Yin em déficit. O importante é personalizar a escolha do exercício, respeitando limites e buscando orientação profissional, se necessário.


Por que Evitar Extremos Alimentares

  1. Riscos de Sobrecarga Interna
    Tanto os alimentos muito “quentes” (como especiarias picantes ingeridas em excesso) quanto os muito “frios” (consumo abusivo de bebidas geladas ou saladas cruas, especialmente em dias frios ou para quem é mais sensível) podem desequilibrar o organismo. Na MTC, esses extremos podem prejudicar o Baço/Estômago ou agravar condições pré-existentes, sejam fogachos na menopausa ou fragilidade digestiva.
  2. Necessidade de Ajuste Sazonal
    O organismo também reage às estações do ano. Em períodos quentes (verão), há quem se beneficie de alimentos de natureza fresca, porém não se deve confundir esse conceito com “comer tudo gelado”. Da mesma forma, no inverno, alimentos de natureza “moderadamente quente” podem ser úteis para quem sente frio, mas não se pode ultrapassar a medida recomendada pelo especialista em MTC.
  3. Harmonia Corporal
    A MTC propõe o caminho do meio. A moderação é a tónica para evitar que o corpo se desequilibre, indo de um extremo a outro. Mesmo quando se busca um efeito terapêutico, o ideal é que cada intervenção seja pontual, reavaliada constantemente e ajustada às reações do organismo.

Benefícios de Integrar a Dietoterapia Chinesa ao Dia a Dia

  1. Prevenção de Doenças Crónicas
    Ao apoiar a capacidade natural de regulação do organismo e ao focar-se numa alimentação menos inflamatória, reduz-se o risco de patologias como diabetes, hipertensão e doenças autoimunes, entre muitas outras patologias.
  2. Ganho de Energia
    Quando a alimentação é adequada à nossa constituição (e não apenas a padrões gerais), há uma sensação palpável de vitalidade e disposição para enfrentar as tarefas do dia.
  3. Melhoria do Sono
    A redução de estímulos (alimentos, luzes, stress) perto da hora de deitar e a escolha de refeições mais suaves neste período contribuem para noites de repouso profundo.
  4. Bem-Estar Emocional
    A Dietoterapia Chinesa reconhece que a alimentação não é apenas física, mas também emocional. Pequenas mudanças podem ter efeitos na ansiedade, no humor e na forma como gerimos os desafios diários.

Conclusão

A Dietoterapia Chinesa, tal como aplicada no Programa Viva Bem…Viva Saudável, oferece um caminho equilibrado para aliar conhecimentos tradicionais e descobertas científicas modernas. Ao respeitar a individualidade energética de cada pessoa, escolhem-se alimentos, métodos de preparação e rotinas que realmente sustentam a saúde a longo prazo. No entanto, é crucial evitar receitas “prontas” ou generalizações extremas: o que funciona para um organismo pode agravar o estado de outro, especialmente em quadros de calor interno (como afrontamentos na menopausa) ou frio crónico (mãos e pés gelados).

Acima de tudo, a experiência mostra que a chave para o sucesso reside no acompanhamento especializado, na observação dos sinais do corpo e na prática da moderação. Quer isso signifique variar a forma de cozer os alimentos, optar por treinos de musculação ou hiit quando adequados ou simplesmente ajustar o horário das refeições, a Dietoterapia Chinesa convida-nos a uma atitude mais consciente e integrada na nossa relação com a comida e com o nosso bem-estar global.

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